terça-feira, 13 de março de 2007

A Ética e a Retórica - Como a retórica pode influenciar na ética?

Ética e retórica são dois conceitos tão antigos quanto a Grécia de Sócrates e dos Sofistas, os professores de retórica. E, assim como as idéias dos supracitados, esses dois conceitos continuam existindo e mais fortes do que nunca.

A ética consiste, basicamente, em julgar valores morais como certos ou errados, agir eticamente é buscar sempre ser justo, leal e correto. Retórica, por sua vez, é a “arte de falar bem”, “seduzir pela palavra”, é saber escolher os melhores argumentos e fundamentá-los de maneira eloqüente, persuasiva. Se, por um lado, a ética é o “conceito do bem”, a retórica pode, por vezes, adquirir um certo quê de maldade, se não bem utilizada.

A advocacia será a base dessa reflexão, por meio dela se estabelecerá a relação conflituosa entre retórica e ética. Advogar é, em princípio, ter um compromisso com a justiça e com o bem-estar da sociedade, fazendo-se punir os culpados e libertar os inocentes. Porém, a advocacia também exige que seus profissionais sejam verdadeiros ourives de palavras, eles precisam manejá-las sempre bem e a seu favor; entra, então, a retórica.

Advogados, portanto, precisam ser ao mesmo tempo éticos e detentores de uma boa fala. Caso as duas sejam usadas de maneira equilibrada, faz-se justiça. Mas, se a retórica se sobrepuser, há grandes chances de ocorrer corrupção no resultado final.

Não faltam exemplos do mau uso da arte de falar bem na justiça brasileira. Alguns casos emblemáticos são: o julgamento que deixou em liberdade o jornalista Pimenta Neves, assassino confesso de sua namorada; o caso do superfaturamento nas obras do TSE de Nicolau dos Santos Neto, entre outros. Em comum, esses dois casos apresentam clientes muito ricos e capazes de contratar os melhores advogados do Brasil; o problema, porém, parece residir justamente nesses gabaritados profissionais.

Cada vez mais competentes com as palavras, os advogados têm se tornado verdadeiros pupilos sofistas, e através de seus discursos levam o júri aos dóxai, extraindo a verdade mais conveniente para seus clientes. A verdade objetiva dos filósofos, nesse caso, é deixada de lado.

Há, então, um grande conflito entre o ser correto e o agradar ao mais poderoso. A retórica pura e simples tem vencido a ética. Ambas encontram-se em uma desarmonia perigosa, que pode selar destinos injustos, como os de Pimenta Neves e Nicolau dos Santos Neto.

A elucidação desse entrave parece não ser tão simples, uma vez que a justiça já se tornou um mercado, tendo os advogados como vendedores de libertação e seus clientes culpados, os compradores.

Talvez a única solução plausível seja a utilização em maior escala da alétheia dos filósofos. A justiça deve, sim, reduzir as chances de réus comprovadamente culpados. Os grandes advogados também deveriam rever seus conceitos e aplicar um pouco mais de ética ao escolher uma causa para defender.

Agni Berti

Um comentário:

Bárbara Monteiro disse...

os jornalistas também entram neste conflito entre ética e retórica...na minha opinião, a manipulação de fatos e também a transmissão de informações (pode-se mentir, distorcer, ou omitir...) está ligada a interesses pessoais que, se levados a frente com uma boa retórica e técnica, onde o receptor não perceba que está sendo manipulado, tem efeitos arrebatadores. isso tudo deixando a ética de lado, é claro...acredito que a ética deva ser a responsabilidade e consciencia pessoal de todos os individuos de uma sociedade, e não apenas de um grupo em questão ou de uma profissão (como a ética médica, a jornalista, etc...)
deveria haver, enfim, uma ética comum, a ética humana, que se respeitada por todos certamente evitaria muitos conflitos e injustiças. é uma pena que isso seja uma visão tão idealista...