segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Apresentação sobre o Filme "The Secret"

Na terça-feira retrazada, dia 4 de setembro, o tema do mini-seminário abordado foi o filme "The Secret" que se baseia na teoria "real" de um grande segredo que foi protegido a ferro e fogo. Homens e mulheres extraordinários o descobriram e não só alcançaram feitos incríveis como também mudaram o curso de nossa história. Platão, Da Vinci, Galileu, Thomas Edison, Beethoven, Napoleão, Abraham Lincoln e Einstein foram alguns dos grandes homens que, segundo o filme, controlavam a força desse mistério.

Segundo a própria autora do livro e filme "The Secret" - que acredita fielmente no segredo:
"À medida que percorrer suas páginas e aprender O Segredo, você passará a saber como pode ter, ser ou fazer o que quiser. Passará a saber quem realmente é. Passará a saber a verdadeira grandeza que está à sua espera na vida."

Mas o que é o tal segredo?
É o poder de atrair as coisas que se deseja pela chamada “lei da atração”: "o mundo é sempre uma projeção da imagem que temos dele". O livro se baseia na idéia de que se pensamos de forma negativa e destrutiva em relação a nós mesmos, dificilmente é possível se conseguir o que deseja. Naturalmente, pensamos em tudo o que NÃO queremos; The secret – O segredo nos lembra que é preciso, SEMPRE, pensar no que se quer, agir com determinação e foco.

O filme ilustra esse poder da mente com estudos reais e testemunhos das pessoas que transformaram suas vidas nos âmbitos financeiros, amorosos, na erradicação das doenças, superação de obstáculos e na conquista de objetivos bem significativos.

A maioria das pessoas diz ter achado o filme exagerado pelas histórias 'reias" que ele mostra. Porém, exagerado ou não, ele causou o interesse das pessoas, uma vez que é um dos maiores fenômenos editoriais do mercado americano. Em dois meses vendeu 4 milhões de exemplares e está há cinco semanas na lista do New York Times.

Confesso que acho o filme exagerado. Mas, entendo as razões da autora para fazê-lo desta forma.
Acho que, se as histórias não fossem tão explícitas e diretas, as pessoas não iriam entender de verdade os princípios do "segredo" que ela estava tentando explicar.
É um paradoxo, pois se de um lado, o filme peca pelas histórias absurdas, por outro, deixa bem claro como deve funcionar a Lei.

Já li alguns livros sobre Programação Neurolinguística (PNL), que possui princípios parecidos com os do filme.
A PNL é uma é uma psicologia que ensina a controlar suas próprias reações e sentimentos com o poder da mente e da linguagem corporal. Com exercícios de pensamento, é possível esquecer frustrações amorosas, controlar-se emocionalmente em situações diversas e conseguir alcançar objetivos. É claro que a PNL não prega que apenas mentalizando o que se quer, fazendo exercícios mentais e aperfeiçoando a linguagem corporal (timbre da voz, jeito.....) irá se conseguir o que deseja. Mas sim, que a mente é capaz de nos controlar por inteiro. É só sabermos usá-la corretamente.

Alguns exercícios são interessantes, até para a nossa profissão de jornalista.
A PNL ensina, que é preciso melhorar a comunicação para obter a simpatia, identificação ou até descobrir o que se deseja de uma pessoa.
Para isso, devemos treinar falar da maneira mais próxima da pessoa. Se ela é agitada e fala com as mãos, por exemplo, faça o mesmo e se demonstre identificação com seu jeito. Se ela fala baixo e suave, acompanhe. Imite até seus movimentos corporais e os movimentos mais delicados que ela faz. - parece bobo, mas tente e verá que funciona.

Outro exercício interessante é pensar em algo que se quer muito (passar no vestibular, tirar a carteira de motorista, conseguir uma vaga de estágio)...Semanas antes do teste ou da entrevista, tente mentalizar, todos os dias, o maximo de vezes possíveis, você conseguindo o que desejava: o que sentiria, como seria. Segundo a PNL, você acaba decorando a cena e sem perceber, acreditando naquilo, o que ajuda e muito na auto-confiança.
Experiência própria depois de ler 3 livros sovre a PNL? Funciona.
Termino essa postagem com uma dica de leitura - sobre PNL é claro:
"Poder sem Limites" Anthony Robbins


Abraços a todos e obrigada por nos acolherem no grupo!
Roberta

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Humor

Na terça feira passada, o nosso grupo realizou o "mini-seminário" discutindo o tema: humor e suas diferentes vertentes.
Numa apresentação versátil, o grupo iniciou explicando fatores "biológicos" do riso.
Depois, citou as origens do humor como gênero, que surgiu como sátira aos costumes socias, criando “tipos” (ex: o padre, o padeiro etc) para ironizá-los, o que se resume na expressão: “Ridendo castigat mores” (Rindo se castigam os costumes).
Mostrando diferentes tipos de humor, o grupo divertiu a classe com vídeos de "Os Simpsons”, Chaplin e o grupo Monty Python com “Futebol dos filósofos”, “Em busca do Cálice Sagrado”, dentre outros.

Comentário pessoal:

Somos novas na sala e fazíamos parte do Grupo “Douta-ignorância” com nossos colegas da noite. O engraçado foi que em nosso mini-seminário do semestre passado, tratamos sobre o mesmo tema: Humor.
Porém, abordamos mais as obras que consagraram o gênero, como “Tartuffo” de Molière e "O auto da barca do Inferno”, de Gil Vicente. Além disso mostramos como funciona o trabalho dos Doutores da Alegria – voluntários que trabalham em hospitais,caracterizados de palhaços, levando alegria e piadas para aqueles que não vêem mais esperança de cura.
Achamos que o ponto alto da apresentação do grupo da manhã foi atrair a atenção da sala com vídeos interativos e engraçados. E além disso, o tema gera uma grande discussão, principalmente para nós que vivemos nessa cidade caótica e estressante que é a cidade de São Paulo. E a nossa mensagem fica aqui: sorrir é, definitivamente, fundamental.

Abraços...

Paola e Roberta

Para quem quiser rever o Futebol dos Filófos, segue abaixo o link:

http://www.youtube.com/watch?v=moWZm66J_yM

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Pena de Mentira

Eu tenho amigos verdadeiramente geniais. Eu tenho a tendência a ver as outras pessoas como mais importantes, ou "melhores" na arte de viver que eu. E uma afirmativa não desmerece a outra.

Um desses meus amigos faz quadrinhos... tive a surpresa de lê-los ainda outro dia, e descobrir que algumas pessoas conseguem sim escrever como me sinto. E provavelmente não só como eu me sinto, mas como um milhão de pessoas por aí deve se sentir, esperando que um significado maior pra isso que chamam de "vida" lhes seja entregue, e descobrindo que, pois é, talvez não tenha sentido nenhum em viver. Descobrindo que são eles que têm que descobrir o quê e como fazer, e como enfrentar as coisas. Descobrindo que talvez Deus não exista, que talvez todos sejamos Deus e que nada disso importe. Descobrindo - ou resolvendo - como eu, que se não há garantia que alguém vai me assegurar, me ajudar ou me proteger, então eu deveria começar a fazer isso direito.

Descobri que pena não é o suficiente pra fazerem algo por você. E que, na verdade, todos se dizem tão bons e tementes a sei lá o quê, cheios de pena e amor e teorias de bondade para com os outros mas não conseguem nem olhar pro lado e ver que talvez aquela pessoa ali no canto, a quem todos encheram de rótulos e julgam tão mal possa estar precisando de ajuda - ou mesmo que ela possa ser digna de ajuda. Enfim... sabe aquelas visões paladínicas que alguns têm sobre as pessoas a serem ajudadas? Os pobres, os desvalidos, os sofredores que não têm poder suficiente pra se levantar, e são rebaixados, calados e condenados ao sofrimento por essa sociedade burguesa injusta? Então, eles são pessoas. E talvez se vocês os conhecessem, em vez de montar esse ideáriozinho infeliz pra fingir que sentem pena, e que pena faz alguma coisa por alguém, talvez vocês descobrissem que não consideram essa pessoa digna de ser ajudada. Não, não queremos você, seu bêbado sujo. Queremos um inocente pra ajudar. Saia da frente da minha bondade, sim?

É uma "pena" que só serve pra a auto-indulgência de bondade.

Nesses últimos dias eu descobri que sou feita de catarro. Sangue, catarro e algum humor - seja ele bom ou mal. E muita, muita baixo-estima foi diagnosticada também.

É justo deixar seus pais maltratarem você sob o pretexto que revolta contra isso é ingratidão? É justo ter que suportar tudo calado, pra poder ir pro céu? É isso que "Deus" quer de mim, que eu seja uma boa menina, que não fale palavrão, que ame a tudo e a todos? E quanto esse tudo e todos me fizer mal? Eu dou a outra face? Estampo um sorriso no rosto, passo a mão na cabeça, arrumo uma desculpa e finjo que não estou magoada? Isso vai me fazer uma pessoa melhor?

Decidi não deixar mais ninguém me magoar. Será que isso vai me fazer ficar sozinha? Maldita dificuldade em mandar tomar no cu...

Ah, sim, o blog do meu amigo: http://www.metafora.blogspot.com

A verdade está na internet! http://www.youtube.com/watch?v=hV76KXU1x6g

Mariana.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Ufanismo Universitário

Foram 4 dias ao todo. Era o JUCA (Jogos Universitários de Comunicação e Artes), reunindo 8 faculdades em meio a jogos e muita festa. Além da Cásper, Metodista, FIAMM, Mackenzie, PUCC, PUC-SP, FAAP e ECA-USP jogaram modalidades como futebol, futsal, volei, natação, handbol e rugby. No meio disso tudo, surgia com muito fervor entre os universitários, o amor pela faculdade.

Talvez seja porque foram 4 dias em contato com pessoas de todos os cursos, torcendo pela mesma faculdade, cantando e erguendo o bandeirão vermelho.

Talvez seja porque todo dia, na caminhada até os ginásios onde aconteceriam os jogos, eramos acompanhados por um verdadeiro exército de pessoas sobre as mesmas cores e por um carro de som que, além de guiar a caminhada, distribuía cerveja.

Talvez seja pela presença da bateria, que agitava torcedores e atletas, entoando cantos de incentivo à faculdade, e que, pela sua simples presença, já impressionava. Quem se esquece dos aplausos de todo o pessoal quando, no primeiro jogo, a bateria começava a tocar em meio ao silêncio, ou então das vezes em que tocavam o poderoso "louco, louco, eu sou da Cásper!".

Talvez pela presença das figuraças da Cásper Líbero, como o inigualável Homem Pássaro, capaz de voar pelas arquibancadas, derrubar o leão da ECA no estádio e "dançar com um pé só" na frente da torcida da Mackenzie. Ou então o Homem Grito, que inflamava a torcida nos jogos e nas baladas, cantando o clássico "what a wonderful world".

Talvez pelo fato de que a balada do alojamento, a qual só casperianos participam, tenha sido a melhor festa do JUCA. Com presença de uma banda, e regada a muita discotecagem de variados rítmos, foi a noite mais animada. Além da presença também, na primeira balada, organizada pela Liga Universitária, do ex-estudante da Cásper Sérgio Mallandro!

Talvez ainda, pela raça e garra com que os atletas de vermelhor levaram a Cásper até sua melhor colocação geral em todas as edições do JUCA: 2° lugar. Isso porque pontos foram perdidos por conta de bombas estouradas em jogos e brigas causadas. Por um momento, lideramos o quadro geral.

Provavelmente o esse ufanismo universitário atingiu membros de todas as faculdades ali presentes. Dava pra notar quando na rua se cruzavam duas cores diferentes: muita rivalidade. É nessas horas que, mais do que nunca, dá orgulho. É como disse Sérgio Mallandro: "Ráá, IéIé, Gluglu, eu sou feliz porque sou da facul (Cásper!!)"

viva o JUCA e viva a Cásper. É por isso que só eu sei porque não fico em casa.

Por Danilo Vital

quarta-feira, 23 de maio de 2007

É impossível que alguém tenha chegado à faculdade sem ouvir a palavra "responsabilidade". Aliás, muito mais do que isso, qualquer um que tenha passado pela adolescência tem o dever de conhecer esse termo, que tanta pressão nos tráz.

Lendo um ensaio de Louis Hodges para um livro de Deni Elliott, compreendi que a responsabilidade só tem sentido quando vivemos em sociedade. É fácil encontrar exemplos para esse fato, basta pensarmos que exercemos influência e somo influenciados pelas atitudes dos demais seres à nossa volta. Portanto, nossas responsabilidades com a sociedade são grandes, sejam elas impostas ( quando o Estado impõe certas regras que devemos acatar ), contratuais ( tipo contratos bilateras, como numa família, onde obrigações recíprocas são atribuídas ) ou auto-atribuídas ( responsabilidades que julgamos dever atenter).

Vamos então estabelecer uma relação com o Jornalismo. Será que já paramos para pensar o tamanho da responsabilidade existente na prática jornalística, e a pressão que isso acarreta? Incomensurável!!! Checar fontes, evitar manipulação e inclinação ideológica que prejudique a mensagem a ser passada, apurar fatos, atender ao chefe, cumprir prazos e agradar ao público é muita responsabilidade.

É por essa razão que eu passo a prezar tanto por jornalistas que tenham em sua pessoa a "responsabilidade auto-atribuída", citada acima. Pessoas assim possuem princípios e caráter acentuados, que guiarão sua carreira e sua produção textual da forma mais responsável possível. Que possamos, todos nós, ser enquadrados nesse requesito, desde jornalistas, escritores até médicos, engenheiros, trabalhadores braçais. Que possamos moldar nossa existência e nossa atividade profissional por idéias e conceitos que proporcionem o bem comum e uma consciência traquila.

pra quem estiver interessado, o livro é "Jornalismo Versus Privacidade", de Deni Elliot

Por Danilo Vital

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Nostalgia e memória seletiva

Quando eu tinha cinco anos, eu tirei uma foto para a escola. Estava no Jardim II. Na foto eu segurava um lápis bobo em cima de uma folha boba na qual havia uma casa boba desenhada. Era para dar a impressão de que eu havia feito o desenho bobo.
A minha cara, como o sagaz leitor deve imaginar, era uma cara de bobo. Não é o que minha tia disse quando viu a foto. Ela disse que eu estava com cara de “puto relaxado” e sabe lá o que ela quis dizer com isso. Deve ter algo com minha cara de doce narcisismo – característica negativa em adultos, mas considerada até engraçadinha nas crianças – já que desde as minhas primeiras palavras, eu demonstrava a minha tendência a enaltecer minha beleza entre outras inúmeras qualidades.
A idéia de falar sobre a foto é justamente remeter o leitor aos meus tempos de infante. Esse me parece um tema recorrente em meus pensamentos e, por mais de uma vez, me sinto obrigado a escrever sobre ele: como gostamos do passado, não?
Não quero, no entanto, transformar esse saudosismo em uma temática perene. Certo é que caso isso acontecesse, daqui a pouco eu estaria fadado a contar sobre a vida pastoril, as paisagens bucólicas e minha vida na cabana com Marília de Dirceu, porém não me identifico com a obra árcade.
Mas para voltar ao assunto central, lembrar-vos-ei de que em 1992, ano da foto, eu não me preocupava com faculdade, nem com emprego e achava que o papai era uma fonte inesgotável de dinheiro. Foi um tempo de regozijo, aos sábados eu ia à feira (ou aos domingos, não me lembro direito), e depois, como de praxe, a visita à casa da vovó.
Curioso é que eu não tinha, como muitas crianças naturalmente não tem, uma clara noção da passagem do tempo, no que dizia respeito ao passar dos meses e anos, de forma que o Natal e Ano Novo vinham de surpresa para mim. Um belo dia e de repente: - Filho, hoje é Natal! – dizia a mamãe.
De qualquer forma, a lição importante que eu tiro dessas lembranças é que a vida passa rápido (uma conclusão brilhante e inédita, aliás). É, portanto, fugaz, e é necessário que saibamos aproveitar os momentos mais doces, mesmo que sejam simples ou não sejam de suntuosidade. Digo isso porque depois de 15 anos, eu lembro apenas das coisas pequenas, aquelas mais curiosas e íntimas para mim. As coisas grandes e notórias são banais, pouco específicas e são de conhecimento de todos. Mas as nossas idiossincrasias, manias, peculiaridades, essas que fazem valer a máxima de que recordar é viver.
No entanto, é inevitável a ponderação: A infância era tão legal assim? Em geral, podemos dizer que sim, mas só porque pensamos nos fatos felizes. E o que acontecem com as memórias infelizes, então? Bem, essas nós nos condicionamos a superar e, depois de tempos, fica a impressão – justa, eu diria – de que elas apenas representaram crescimento pessoal e aprendizado. E nossos problemas atuais, esses sim nos afligem. E no final das contas, parece que tudo era melhor antigamente, mais feliz, bonito e romântico.
Hoje em dia a vida é muito chata, não? Muitas guerras, problemas no mundo (e julgo ser impossível passar inerte a eles), problemas pessoais, desemprego, violência urbana, etc. Certamente é cedo para dizer que a vida é chata, logo cedo aos meus rijos e prósperos 20 anos, e é com toda certeza que se trata de um exagero de minha parte. Mas periodicamente a nostalgia nos alcança, e as minhas queixas se justificam hoje, se justificaram ontem, e se justificarão amanhã. Tudo por causa dessa tal memória seletiva.
E, pensando bem, acho que não é a vida que é chata. Chato é o ser humano, que é muito insatisfeito, reclama de tudo e sempre consegue encontrar defeitos até nas coisas mais positivas...Droga, queria ter 5 anos de novo.

por Fernando Mendes

terça-feira, 8 de maio de 2007

Continuando Uma discussão começada em aula, eu gostaria de falar um pouco sobre o medo. Não o sentimento que pode ou não preservar nossa vida, resguardar nossa alma ou manter coeso o nosso sistema de governo. Mas, sim, alguns medos específicos, referentes a um comentário do professor Dimas Kunsch na nossa aula de Filosofia do dia 8/5. Ficamos por ele intimados a nos desvencilhar da nossa aversão pela auto-avaliação, a uma estrutura auto-imposta por nós alunos, diferente da usual, hierárquica, na qual estamos entregues aos critérios de um professor num sistema quase autocrático que nos limita, mas também nos resguarda de cometer erros, de receber críticas, de expor nosso pensamento a outras pessoas.

Para ilustrar este ponto, eu proponho uma visão um tanto superficial da graphic novel Midnight Nation (2003, Joe’s Comics), do autor Joseph Michael Straczynski, ilustrada por Gary Frank.

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket

Em Midnight Nation Straczynski narra a história de David Grey, um detetive de Los Angeles que está investigando um assassinato brutal. Seguindo pistas, ele chega ao suposto assassino, mas, quando é forçado a matá-lo, Grey é atacado por criaturas que parecem duendes. Ele acorda um tempo depois num hospital apenas para descobrir que as pessoas à sua volta se tornaram translúcidas e não podem mais vê-lo. De início, a única pessoa com quem ele consegue interagir é uma mulher chamada Laurel, que se apresenta como sua guia. Ela explica que Grey perdeu sua alma e que agora se encontra preso num mundo de sombras paralelo ao nosso, habitado por aqueles que foram esquecidos pela sociedade. Resta a ele, como última esperança, atravessar o país a pé em menos de um ano e retomar sua alma daquele que a roubou (essencialmente Satanás), ou ser transformado num “Andarilho” nome dado às criaturas que o atacaram previamente. Straczynski diz que esta obra é uma obra sobre a qual ele “derramou muita emoção, muitos sentimentos pessoais e história e crença, cobrindo vida, morte, religião, Deus, como nós alcançamos significado... Tudo isto equilibrado sobre uma viagem de duas pessoas através do país, uma buscando sua alma, outra enviada para ajudá-lo ou matá-lo, dependendo do fim da história”.

É durante esta travessia que Straczynski narra um encontro entre Laurel, Grey e alguns habitantes deste mundo no meio do deserto. Cruzando o sudoeste dos Estados Unidos ao longo de estradas interestaduais que cortam o deserto, David e Laurel se encontram sem comida. Tendo que entrar no deserto para buscar alimento, na vastidão plana que eles avistavam da estrada magicamente surge uma depressão, na qual um grupo de pessoas se reúne ao redor de uma fogueira. Estas pessoas se recusam a abandonar seu acampamento ou se distanciar muito do fogo, comendo animais que por ali se aventuram e bebendo água da chuva, por medo do desconhecido além de seus pequenos vales. E, para passar o tempo, estas pessoas contam histórias sobre como acabaram neste lugar e sobre suas vidas. Todas as histórias têm dois pontos comuns: Primeiro, o indivíduo busca se engrandecer, justificando suas ações e se recusando a ver como elas levaram a resultados desastrosos. Segundo, o medo permeia todas elas.

Eu acabei por escolher três fobias para simplificar e exemplificar o medo das personagens na história e o medo paralisante identificado pelo professor Dimas. A fobia social, ou o medo de ser avaliado de forma negativa socialmente, a eleuterofobia, ou medo da liberdade, e a metatesiofobia, ou medo de mudanças. Tentarei explicar cada uma brevemente e como elas se relacionam como o assunto.

Estas três fobias são algumas das mais comuns entre os seres humanos, animais sociais e de hábitos, naturalmente confortáveis em suas rotinas e padrões de comportamento. Muito já foi dito e por diversos especialistas nas áreas do estudo do ser humano sobre a inabilidade do indivíduo em reagir positivamente a um novo elemento em sua vida. Seja uma nova pessoa, uma nova situação ou simplesmente uma nova idéia exterior à experiência individual. Pode-se dizer até que é parte do mecanismo de auto-preservação do ser humano. No entanto, é uma característica que nos mantém presos a situações às vezes desfavoráveis simplesmente porque já estamos acostumados com elas. Somente com o uso da razão, da análise e da experimentação (direta ou indireta) é que novos elementos são incorporados ao cotidiano. Mas o medo da mudança é sempre presente.

Da mesma forma, é comum ouvir discursos, principalmente quanto à regulação governamental nos nossos dias, defendendo o cerceamento das liberdades individuais em favor de maior segurança. É um medo quimérico, com duas facetas principais. Uma é o medo da liberdade do outro. Quanto mais liberdade o outro possui, maior é o medo da capacidade dele em invadir o meu espaço e influenciar minha existência de forma negativa ou adversa aos meus objetivos. A outra faceta é o medo da liberdade própria. Quanto maior a minha liberdade, maior será a exigência sobre mim para tomar decisões, responsabilidade e simplesmente pensar. Pior, maior será a probabilidade de que, sem instruções e regras e restrições, eu aja equivocadamente e seja criticado pelos meus pares, exposto por minhas falhas.

Este medo, de que os outros julguem-nos inferiores ou de menor valor é, talvez, a fobia mais comum. Também porque esta fobia vem mascarada por todo o tipo de racionalização, justificativa, relativismo, desculpa e até mesmo por outras fobias. A baixa aceitação social, o medo do fracasso não por si só, mas pelo seu estigma perante nossos pares é o que mais facilmente paralisa o indivíduo, agindo contra a inovação sugerindo a segurança da adequação, contra a iniciativa reforçando o suposto valor da rotina e contra a ação superestimando a estabilidade, mesmo que isto perpetue uma situação que denigre o caráter humano e impede a edificação do indivíduo.

David Grey de Midnight Nation se recusa a ser igual às pessoas reunidas em volta da fogueira, paralisadas por seu medo, e decide enfrentar qualquer perigo que possa realmente existir no deserto além das bordas do barranco que os cercam, retornar à estrada e continuar sua viagem. Ele estava cansado das mesmas frases repetidas à exaustão: “melhor o mal conhecido ao desconhecido”, “Não podemos confiar em nada que existe além das bordas do barranco”, “A estrada pode matar”, “melhor ficar onde estamos”. A visão metafórica que Straczynski e Frank produzem na última página da quarta edição na qual esta estória está contida fala volumes.

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket

Eu estava agarrado à minha posição e à minha cadeira na sala de aula, na turma aberta em círculo, são e salvo no brilho familiar do fogo no centro do círculo, regalado no escárnio a novas propostas, escondendo e escondido do meu medo. Mas as palavras que eu ouvi me forçaram para além das bordas. A visão da estrada é ampla, e eu pretendo continuar nela.
Texto escrito por Carlos Senna.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

O Mito da Faculdade

O filósofo grego Platão trata em seu livro “A República” do chamado Mito da Caverna, ou Alegoria da Caverna. Uma explicação em linhas bem gerais para quem não conhece: imagine um muro alto separando o mundo externo e o interior de uma caverna, onde vivem seres humanos acorrentados, no escuro e virados de costas para o muro. Tudo o que podem ver são as sombras projetadas pela luz que passa por uma fresta do muro e atinge a parede da caverna, portanto, julgam as sombras como objetos reais. Quando um dos seres humanos se livra das correntes, conhece o mundo externo e retorna à caverna, é renegados pelos outros, já que não aceitam a idéia de a sombra não ser o real.

Após um bimestre na faculdade, eu me sinto como aquele que descobriu o mundo afora. Usando de muito exagero, é como se acabasse de descobrir que esse mundo é muito maior, e vai muito além do que se pensa. É claro que na cidadezinha do interior de onde venho muita gente faz faculdade e já sabe como é, mas quem não passou por isso só vai saber mesmo vivenciando. Nada mais desconhecido do que morar nessa capital, que aos poucos vai me enquadrando em seu esquema. E é todo fim de semana, quando retorno à morada querida que me encontro como o personagem de Platão, principalmente ao receber perguntas do tipo “como vai a faculdade?”, e “está gostando de morar fora?”. As pessoas acham que você mudou seu jeito, que o Ensino Superior te transformou, mas o que ocorreu foi o fato de ter escalado o muro que está na entrada da caverna.

A diferença entre a minha pessoa e a personagem da caverna é que não sou renegado ao voltar pra casa. As reações, ao ouvir as respostas das perguntas citadas acima são as mais diversas: alguns nem ligam, afinal, perguntaram por educação mesmo. Outros, acham legal, sempre é legal. Mas a verdade mesmo só sabe quem vem fazer Cásper Líbero. É por isso que só eu sei porque eu não fico em casa.

Por Danilo Vital

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Cheiro de casa (ou cheio de casa?)

Depois de um mês longe de casa - qualquer um que não estude sua cidade natal há de me compreender - voltar é muito bom.

O cheiro da sua cidade natal é sempre melhor (leia sem poluição), a comida da mamãe é sempre mais gostosa do que a do restaurante duvidoso em que você geralmente almoça, e mil vezes melhor do que o projeto de gororoba que você faz, por falta de alternativa.

A sua cama é sempre mais gostosa que a do apartamento que você divide com aqueles mal cheirosos companheiros de quarto.

Companheiros? Não. Companheiros mesmo são aqueles que te conhecem à tanto tempo e tão bem, que praticamente completam as suas frases ou que entendem o que você quer dizer sem a necessidade de palavras.
Sábado, na balada, você fica feliz por conhecer a maior parte das pessoas da pista e então, se sente em casa.

Mas e antes de mudar de cidade? Tenho quase certeza de que não pensava do mesmo modo.
Provavelmente reclamava com sua mãe por fazer frango assado pela trigésima primeira vez em um mês - esse mesmo frango que agora você aguarda ansiosamente e que provavelmente leva de marmita na segunda de manhã, para garantir comida decente para pelo menos um dia da semana.

Os amigos que agora vêm te buscar na rodoviária? Aposto que quando fazia cursinho você dizia que eles não te compreendiam, eram fúteis, gostavam do mesmo tipo de música vazia, iam sempre às mesmas baladas e, quando essas ficavam escassas, iam sempre ao mesmoshopping, não porque queriam algo de lá, mas para fazer a boa e velha social - com o mesmo tipo de pessoas.

É meu amigo, agora você sente falta de tudo isso. Daqui a quatro anos ou mais vai se lembrar com saudade dos seus dias na cidade grande e dizer que os amigos que você lá tinha eram mais legais, as baladas mais fartas, os restaurantes mais qualificados, que seus colegas de quarto é que tinham estilo. E quando tiver um filho entrando na faculdade, provavelmente dirá a ele que aproveite aqueles que serão os melhores anos de sua vida.

Dica do dia: Aproveite o fim (e o decorrer) da semana.

Inté,

LaíS

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Vídeo do seminário no youtube!!

Ae Galera!

O vídeo "Falando Com Sócrates" do nosso seminário está no youtube! Basta clicar aqui no link http://www.youtube.com/watch?v=Q1trYA-9mmA para você ver e rever quantas vezes quiser!
Também gostaria de avisar àqueles que estranharam a interrupção um tanto súbita de postagens de que valtamos agora à frequencia normal. A árdua preparação do seminário nos obrigou a abandonar um pouco o blog mas agora estamos de volta!

Abraços,
Alessandro JL de Campos

terça-feira, 24 de abril de 2007

Nossa Apresentação

Como tivemos problemas técnicos durante o nosso seminário, a apresentação que deveria ter sido usada acabou sendo substituída pela apresentação de rascunho...mas agora, graças à Mari Brasil, vocês podem abrir a apresentação original e bonitona aqui no blog! Só vai ficar faltando a trilha sonora de música grega...
Para ver a apresentação é só clicar no link abaixo e fazer o download:

http://rapidshare.com/files/27495663/APOLOGIA_DE_S_CRATES_APRESENTA__O.ppt.html

Me digam o que acharam depois, e desculpem pelos problemas na última terça (mas, deixando a modéstia de lado, a gente arrasou!).
Beijo pra vocês,
Bárbara

quinta-feira, 29 de março de 2007

Humanize já! (e viva o diálogo!)

Oi pessoal! Este é o meu primeiro post aqui no blog, mas não será um texto teórico ou didaticamente filosófico. Para falar a verdade, nem tem muito a ver com Sócrates ou com sua defesa, porém traz certa reflexão sobre o cotidiano e alguns questinamentos, o que não deixa de ser filosofia. Nessa semana, nosso grupo se reuniu na terça e na quarta-feira à tarde para elaborar o seminário sobre a Apologia de Sócrates, que vamos apresentar em Abril. Talvez seja típica a cena de um grupo um tanto numeroso de alunos se reunindo para fazer um trabalho (somos dez integrantes): começam bem, com certa seriedade se sentam juntos para discutir sobre suas tarefas, mas acabam puxando um assunto aqui e outro ali e, quando finalmente se dão conta, estão há muitos preciosos minutos conversando (porque, afinal de contas, todos querem terminar o trabalho o mais rápido possível, almoçar e se mandar para casa, certo?), contando casos e histórias, o que muita gente diz que é jogar conversa fora, ficar dispersando, viajando...só que nestes minutinhos muita coisa aconteceu e nem nos demos conta.
Quando paramos para conversar com uma pessoa de maneira informal, quebrando, de certa forma, nossa rotina ou planos, não deveríamos considerar que estamos perdendo tempo. Essa expressão "jogar conversa fora" nem deveria existir! Digo isso porque, se uma conversa com determinada pessoa for realmente tão descartável que não vá lhe acrescentar nada ou ainda aborrecê-lo, simplesmente ela não existirá. Será evitada. Por que nos daríamos o trabalho de passar uma parte de nosso tão precioso tempo fazendo algo tão inútil e não prazeroso? Dessa forma, acredito que, se paramos para falar com alguém, é porque há um bom motivo (mesmo que na hora a gente não perceba). Não estou dizendo aqui que o certo é parar todas as atividades do dia como trabalhos, aulas, leituras, etc. para ficar papeando, só que deveríamos dar mais importância e praticar mais o contato com as pessoas, o relacionamento humano, ao invés de nos contentarmos em "conversar" lendo mensagens numa tela de computador ou celular. O contato direto com o outro é fundamental na construção de um ser humano como indivíduo, como cidadão. Conhecer a história, as origens, gostos pessoais e opiniões diferentes contribui para com a diversidade e a convivência na sociedade, uma vez que, com o contato real, podemos nos colocar no lugar do outro e entender seu ponto de vista sobre o mundo, o lugar que ele ocupa. Como é bom poder descobrir coisas sobre seu colega que você nunca tinha imaginado, saber onde ele estudou, de onde ele veio, o que gosta de fazer em seu tempo livre; ficar sabendo que ele tem uma banda legal, que o outro gosta de ler quadrinhos, que a sua amiga mora em Santos, que seu outro amigo mora em Jundiaí (e chega em casa antes do que você, que mora em São Paulo - pasmem!)...além disso, é muito saudável a discussão de opiniões, a verdadeira troca de idéias e argumentos, aprender e ensinar com o outro. Tudo isso é muito importante!
Não é um absurdo o fato de já não conhecermos mais os nossos vizinhos? E de não cumprimentarmos aquelas pessoas que vemos todo santo dia no corredor, no elevador, na padaria, na biblioteca?
Encontrei o Dimas quando estava saindo da faculdade naquele dia e ele ficou muito feliz de saber que na nossa reunião de trabalho nós conversamos tanto. Até a redação da Ivonete tinha um questionamento no tema e nos textos de apoio que era muito parecido com o que escrevo aqui. Mas foi uma coisa que me fez parar pra pensar. Me lembrei da minha avó, que tanto se esforça para dar atenção a todos que estão à sua volta, incluindo os vizinhos, o porteiro, a cabeleireira. Nosso mundo hoje está cada vez mais individualista, artificial e frio. Não há respeito ou tolerância pelas diferenças entre cada um, as relações são falsas e superficiais. E só depende de cada um de nós mudar o jogo para construir uma sociedade um pouquinho mais humana, interessante e feliz. Então por que você não desliga seu computador, vai fazer um bolo e aproveita pra levar um pedaço pra sua vizinha?
Beijo pra vocês,
Bárbara

quarta-feira, 28 de março de 2007

ApologiaS. Plural.

O “Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa” define a palavra apologia como um “discurso para justificar, defender ou louvar”. Por esta definição, nenhum título teria sido mais apropriado para o volume escrito por Platão para narrar o julgamento de seu maior professor, Sócrates. Nele, enquanto Platão certamente discursa tanto quanto Sócrates ou seus acusadores mesmo não tendo sequer uma palavra atribuída à sua pessoa em “Apologia de Sócrates”, podemos observar as três intenções previstas pelo dicionário.

Em termos concretos, o livro descreve como Sócrates se defendeu das acusações de ensinar o mal à juventude ateniense e de, basicamente, desonrar os deuses. Mas também funciona como uma defesa da filosofia socrática frente aos pensamentos sofistas da época, ao mesmo tempo em que louva a retórica, a ética e noção de verdade e justifica todos estes conceitos frente aos valores da época que permitiram a injusta condenação de Sócrates à morte.

Da mesma forma, neste blog através deste ano, buscaremos de diversas formas justificar, defender e louvar o pensamento socrático como ele é descrito por Platão e ainda analisá-lo, compará-lo e até mesmo criticá-lo. Afinal, nosso objetivo maior, além de ampliar o nosso conhecimento e aprofundar o nosso discurso filosófico, é levar a quem possa ler nosso blog um bom entendimento sobre a obra de Platão e a influência de Sócrates não apenas neste aluno específico, mas na filosofia Ocidental como um todo e ao longo do tempo.

Acho que posso falar por todos no meu grupo de pesquisa quando digo que ninguém dentre nós almeja se igualar a Platão, nem compartilhamos de seu objetivo quando este escreveu “Apologia de Sócrates”. Mas, ainda assim, se não iremos a todos os momentos defender e louvar Sócrates, pelo menos faremos o melhor dentro de nossas capacidades para justificar, se não o pensamento Socrático em si, o infinito valor da obra de Platão para o campo da filosofia.

Texto por Carlos Senna.

sexta-feira, 23 de março de 2007

Filósofos x Sofistas: Quem venceu?

Gostaria muito de dar continuidade a essa discussão que começamos em aula, mas que não tivemos tempo de aprofundar. Sei que as opiniões vão divergir, mas eu creio que foram os sofistas. Portanto, como faria um bom sofista, prover-me-ei de argumentos para defender
minha posição.

Não há país plenamente desenvolvido no mundo que não possua leis, e onde há leis, há advogados, e onde há advogados: há sofistas. Todo o sistema de justiça moderno baseia-se em idéias sofistas, ou será que o certo e o errado dependem de algum outro fator se não da oratória do advogado? Ganha quem tem os melhores argumentos, ou quem consegue expressá-los da maneira mais convincente, e é justamente essa ausência de determinação entre o que é correto ou não que faz do direito uma “arte do sofismo”.

Entretanto, não foi só a justiça que o sofismo influenciou, basta observar a publicidade. Como dizer que um publicitário não é sofista na medida em que, em não raras oportunidades, ele tenta provar para outros que um produto ruim é bom? Nota-se aí novamente uma relativização da qualidade: O bom pode ser ruim, assim como o ruim pode ser bom. Para o sofista e para o publicitário, ambas as possibilidades podem ser válidas. Basta argumentar.

Mas e quanto à filosofia defendida por Sócrates, aonde a encontramos no mundo de hoje? Provavelmente em faculdades, livros filosóficos e dentro da mente de poucos que, diferentemente da maioria, adotam a idéia do “só sei que nada sei” e, a partir daí, seguem em busca de uma verdade absoluta. Agora, se depender da massa de hoje, só há uma verdade irrefutável: a morte. Sair à procura de outras é um trabalho árduo, pensar dói.

Enfim, espero ter sido convincente. De maneira resumida, creio que o sofismo “ganhou” porque, na prática, ele está muito mais presente no nosso cotidiano. Também não posso deixar de lamentar que seja assim, já que o ideal de justiça socrático é, sem dúvida, mais justo.


Abaixo, os links para dois sites que me pareceram muito bons:

.http://72.14.209.104/search?q=cache:rtK2lHzuXO8J:afilosofia.no.sapo.pt/10socrates.htm+filosofia+socrates+sofistas&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=8&gl=br

. http://www.mundociencia.com.br/filosofia/socrates.htm

Por Alessandro J. L. de Campos

quinta-feira, 22 de março de 2007

Utopia, John Lennon e Joseph Proudhon

A palavra utopia define um plano teórico que não pode ser realizado, e foi cunhada à partir da obra de Thomas Morus, Utopia, que descreve um país imaginário de mesmo nome.
John Lennon, em sua mais famosa canção, Imagine, descreve um mundo onde não há religiões, países, posses, ganância e fome. É, portanto, uma descrição utópica que tem como função, emocionar as pessoas que a escutam, provocando uma reflexão sobre o destino qual estamos levando o mundo, através de nossas atitudes.
Se Sócrates estava certo em afirmar que os poetas não detinham conhecimento algum – sobre suas próprias obras inclusive – e a composição de suas poesias se dava apenas por um impulso criativo, um dom natural, estado de inspiração, bem como “os adivinhos e os profetas” (palavras do próprio Sócrates, retiradas da “Apologia de Sócrates”, escrita por seu discípulo, Platão), então Lennon nada sabia sobre a Utopia de Morus, ou as teorias anarquistas de Pierre-Joseph Proudhon.
Nesse caso, acredito que o ex-beatle escreveu a celebrada música apenas movido pela sua paixão pelo mundo e o desejo de que a humanidade, um dia, viva em paz. No entanto, a relação com o mundo utópico de Morus e a anarquia de Proudhon é inevitável.
Uma análise da letra da música em questão permite ver claramente que há uma idéia comum a todos. Eles idealizam uma sociedade perfeita e justa e, por mais que os anarquistas não admitam, as três sociedades idealizadas por cada um são inviáveis do ponto de vista prático.
As críticas mais significativas que são comuns aos três estão a seguir:
“Imaginem não haver propriedades”, cantava Lennon. Esse trecho da música dialoga tanto com os pensamentos anarquistas, sintetizados pela frase “A propriedade é um roubo”, proferida por Proudhon, no século XIX, que deu título a uma de suas obras, quanto com o ideal utópico de Morus, que tempos antes, foi o precursor das teorias socialistas que tentaram criar uma sociedade baseada na comunidade de bens.
A crítica de Lennon à religião também é encontrada na Utopia, porém, nesse caso há uma divergência, posto que Lennon imagina a ausência de religiões, e Thomas Morus descreve um mundo em que apesar das religiões terem representações diferentes para povos diferentes, a maioria das pessoas(as mais sábias, de acordo com ele) reconhece um Deus único, supremo, e é a Ele que se prestam homenagens. Já a crítica anarquista à religião, consiste em não reconhecer as instituições religiosas(apesar de não serem ateus), essas que fornecem condições para a subjugação de uma classe por outra.
De qualquer forma, mesmo que com visões diferentes, os três autores em questão se relacionam, pois o produto final de suas idéias, é, grosso modo, o mesmo, ou seja, uma sociedade horizontal, sem hierarquias, na qual todos são livres e vivem em harmonia. “And the world will live as one”.


Texto por Fernando Mendes

quarta-feira, 21 de março de 2007

O interacionismo simbólico: Sócrates sob diferentes ângulos.



O professor Lira diria que para que possamos interagir com o mundo criamos símbolos. Criamos imagens, interpretações de como as coisas são para tentar compreendê-las e o nosso universo social, ou seja, o lugar do qual viemos e as experiências pelas quais passamos ajudam a determinar quais serão esses símbolos. Utilizando esse raciocínio, o que esse blog representa para mim não é o mesmo que representa para você leitor - que deve estar pensando que já viu posts melhores. Calma, este blog ainda se considera filósofo, só pegou emprestado uma teoria da sociologia para analisar um filósofo e as diferentes imagens dele. O amante do saber em questão não é qualquer um, é simplesmente aquele que apadrinha esta página: Sócrates.

Sócrates, como você já devem saber, nunca escreveu, e tudo o que sabemos sobre ele é graças a escritos de outras pessoas. Essas seriam: Platão, Xenofonte e Aristófanes. Outros autores também falaram sobre essa lendária figura, mas não tanto e de forma tão direta quanto os três acima.

Aristófanes narra o quão maléfica foi a presença e o pensamento de Sócrates para um filho que após a convivência com o filósofo se virou contra o pai. Apesar de mostrar o uso que Sócrates faz do diálogo para fazer com que o interlocutor caia em contradição, ele o faz de um modo cômico, tentando sempre representar Sócrates como um falso sábio, mostrar-lhe como sofista, ridicularizando-o. Algo que é compreensível se vermos que Aristófanes na verdade escrevia peças cômicas para teatro e que portanto, se fosse realizar uma obra, qualquer que fosse, ela teria naturalmente um tom cômico.


Já Xenofonte retrata um Sócrates austero, amante do trabalho no campo e da vida militar. Preocupa-se muito em registrar a vida correta e regrada do mestre, como alguém cheio de condutas morais, e para isso não se cansa de elogiar o esforço que o filósofo empenhava em seu trabalho. Percebe-se que o fato de Xenofonte ter sido militar a maior parte da sua vida influencia seu modo de ver Sócrates, ele só enxerga, ou dá mais ênfase, aos aspectos da vida do filósofo que são mais próximos de seu mundo cultural.

A visão de Platão é a que mais utilizamos em estudos e é também a que será apresentada pelos escritores desse blog ao final do bimestre. Não entrarei em detalhes sobre o conteúdo das obras desse autor que têm como personagem Sócrates (não só para preservar a surpresa como também para evitar conflitos dentro de uma equipe até agora harmoniosa). Por agora, o que nos interessa é o que Platão era e como ele via seu mestre. Platão foi discípulo desse filósofo nos tempos mais difíceis de sua vida, quando ele era jovem e o mestre, já velho. Declarava ser Sócrates o homem mais justo que jamais conheceu. O tipo de encantamento que vemos no discurso dele é daquele que causa cegueira em muitas pessoas e não as permite analisar seu ídolo da forma mais imparcial possível. Então porque confiar mais em Platão que em Xenofonte ou Aristófanes? A resposta pode estar apoiada justamente na sociologia, ciência que iniciou este post. Platão, ao contrário dos outros autores era filósofo e por isso a visão dele não é mais verdadeira que as outras, mas constitui um relato mais rico e portanto mais interessante para os estudos do que as obras de um comediógrafo ou de um militar.

Se algum dos autores mentia ou mascarava a verdade, como era o real Sócrates e se ele realmente foi tão genial quanto diz Platão acredito que nunca saberemos. Mas algo que não devemos nos esquecer é que mesmo o mundo que vemos não passa da nossa representação da realidade, dessa forma, se me perguntares qual era o real Sócrates, terei de responder com outra pergunta (bem no estilo socrático): Mas, e quem és tu, realmente?



Inté,

Laís


P.S: Dica de leitura:"Sócrates, o nascimento da razão negativa" de Hector Benoit.

terça-feira, 20 de março de 2007

Sócrates e a Telefônica

Olá, amigos. Eu me chamo Mariana e, toricamente, era pra eu ter postado isso ontem, mas fui prevenida por um feliz imprevisto com a Telefônica. Portanto a minha dissertação.

Sabiam que a Telefônica é, de certa forma, muito parecida com Sócrates?

Pra quem não sabe, Sócrates, nosso ilustre amigo Sócrates, foi um Ateniense que acreditamos ter nascido no ano 470 AC, na cidade estado de Atenas, Grécia. Ele viveu (e morreu) importunando as pessoas, como uma mosquito que obriga burros a se moverem... Sócrates, caros leitores, queria fazer as pessoas pensarem. Para isso, ele se utilizava de lógica e questionamento sistemático de todas as verdades estabalecidas, pois só assim, de acordo com ele, seria possível descobrir a Verdade.

A Telefônica se assemelha. Ela não é de origem grega, mas importuna a gente. E, se formos espertos o bastante, e tivermos a paciência de procurar informações em todos os seus ramais, nós aprenderemos muito. Lições de dúvida, paciência, espanto e eventualmente um aprendizado básico em informática. Tudo bem, não creio que ela faça isso no intuito de nos levar a essas lições... mas quantas chateações da vida, se encaradas como um convite à paciência e à filosofia, não se tornariam benéficas?

A moral da história, eu acho, é "não dêm cicuta, mas ao menos ameacem processar".

Abraços e até segunda que vem,

Mariana (Ma pra uns, Nyxx pra outros e... como o meu namorado me chama não é da conta de vocês!).

PS - cicuta foi o veneno que Sócrates usou pra se matar, após ser julgado de "corruptor da juventude ateniense". Mas isso é outra história.

terça-feira, 13 de março de 2007

A Ética e a Retórica - Como a retórica pode influenciar na ética?

Ética e retórica são dois conceitos tão antigos quanto a Grécia de Sócrates e dos Sofistas, os professores de retórica. E, assim como as idéias dos supracitados, esses dois conceitos continuam existindo e mais fortes do que nunca.

A ética consiste, basicamente, em julgar valores morais como certos ou errados, agir eticamente é buscar sempre ser justo, leal e correto. Retórica, por sua vez, é a “arte de falar bem”, “seduzir pela palavra”, é saber escolher os melhores argumentos e fundamentá-los de maneira eloqüente, persuasiva. Se, por um lado, a ética é o “conceito do bem”, a retórica pode, por vezes, adquirir um certo quê de maldade, se não bem utilizada.

A advocacia será a base dessa reflexão, por meio dela se estabelecerá a relação conflituosa entre retórica e ética. Advogar é, em princípio, ter um compromisso com a justiça e com o bem-estar da sociedade, fazendo-se punir os culpados e libertar os inocentes. Porém, a advocacia também exige que seus profissionais sejam verdadeiros ourives de palavras, eles precisam manejá-las sempre bem e a seu favor; entra, então, a retórica.

Advogados, portanto, precisam ser ao mesmo tempo éticos e detentores de uma boa fala. Caso as duas sejam usadas de maneira equilibrada, faz-se justiça. Mas, se a retórica se sobrepuser, há grandes chances de ocorrer corrupção no resultado final.

Não faltam exemplos do mau uso da arte de falar bem na justiça brasileira. Alguns casos emblemáticos são: o julgamento que deixou em liberdade o jornalista Pimenta Neves, assassino confesso de sua namorada; o caso do superfaturamento nas obras do TSE de Nicolau dos Santos Neto, entre outros. Em comum, esses dois casos apresentam clientes muito ricos e capazes de contratar os melhores advogados do Brasil; o problema, porém, parece residir justamente nesses gabaritados profissionais.

Cada vez mais competentes com as palavras, os advogados têm se tornado verdadeiros pupilos sofistas, e através de seus discursos levam o júri aos dóxai, extraindo a verdade mais conveniente para seus clientes. A verdade objetiva dos filósofos, nesse caso, é deixada de lado.

Há, então, um grande conflito entre o ser correto e o agradar ao mais poderoso. A retórica pura e simples tem vencido a ética. Ambas encontram-se em uma desarmonia perigosa, que pode selar destinos injustos, como os de Pimenta Neves e Nicolau dos Santos Neto.

A elucidação desse entrave parece não ser tão simples, uma vez que a justiça já se tornou um mercado, tendo os advogados como vendedores de libertação e seus clientes culpados, os compradores.

Talvez a única solução plausível seja a utilização em maior escala da alétheia dos filósofos. A justiça deve, sim, reduzir as chances de réus comprovadamente culpados. Os grandes advogados também deveriam rever seus conceitos e aplicar um pouco mais de ética ao escolher uma causa para defender.

Agni Berti

segunda-feira, 12 de março de 2007

Sócrates e "300 de Esparta" - A morte como triunfo

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket Este blog é dedicado à discussão filosófica, inspirada nas aulas de filosofia dadas aos alunos do 1º ano de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero pelo Prof. Dr. Dimas Künch e no pensamento do filósofo Sócrates, como ele é descrito no livro “Apologia de Sócrates” de seu mais ilustre aluno, Platão. Um homem cuja vida está, assim como diversas figuras da história antiga, marcada por incertezas e relatos conflitantes. No entanto, suas idéias consolidaram a base do nosso pensamento e filosofia moderna. E me parece fundamental e atípico que muito de sua importância para nós venha de sua morte, e não de sua vida. E é com algumas considerações sobre sua morte e com uma comparação que eu gostaria de iniciar minha colaboração.

Primeiramente, quero pedir desculpas a você que lê este texto. Ele não será breve, já aviso, mas este não é o motivo pelo qual me desculpo. Simplesmente venho dizer que, se aqui, logo de inicio, esperava encontrar uma análise ponderada do método Socrático, exemplos do uso da dialética, ou debates sobre Filosofia versus Sofismo, eu vou desapontá-lo. O que vou, sim, tentar fazer é, através da comparação com um fato histórico, ricamente representado numa recente obra de ficção, mostrar um pouco do contexto histórico no qual viveu Sócrates e fatos que podem ter influenciado o mesmo, numa tenra idade, no seu pensamento e posicionamento que eventualmente tanto determinaram seu julgamento e subseqüente morte.

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket
A obra de ficção mencionada acima é o filme “300 de Esparta” (“300”), baseado na premiada obra homônima em quadrinhos escrita e desenhada por Frank Miller (publicada pela Dark Horse Comics, de Maio a Setembro de 1998). A estória é baseada no relato histórico de Heródoto de Halicarnasso da Batalha das Termópilas. Segundo Heródoto, em Agosto do ano 480 a.C., 300 espartanos, aliados a mais de 5000 outros gregos de diversas outras cidades-estados, enfrentaram um exército Persa, liderado pelo imperador Xerxes I, que contava com cerca de 4,7 milhões de soldados.

Desde então, muitos historiadores tentaram desmistificar os números envolvidos nesta batalha e hoje se acredita que os gregos estavam em cerca de 14 mil homens e as forças persas contavam com 250 mil soldados. O fato é que o número exato de combatentes é irrelevante, especialmente se considerarmos que durante a época em que Sócrates viveu, os números descritos por Heródoto deviam ser considerados verdadeiros. Então, aqui, aceitaremos que o rei Leônidas de Esparta comandou um exército de 5,500 homens contra alguns milhões de Persas.

Sócrates nasceu em Atenas, no ano 470 a.C. num período de paz instável entre as duas maiores cidades-estados gregas. Durante sua vida, fez parte do exército de Atenas e existem muitos testemunhos documentais de seu valor durante batalhas. Batalhas estas lutadas durante a Guerra do Peloponeso (431 a.C. a 404 a.C.), na qual Atenas e seus aliados lutaram contra a Liga do Peloponeso, liderada por Esparta. Sócrates, apesar de nunca negar sua paixão por Atenas, parece ter sido crítico da democracia Ateniense e elogia direta e indiretamente Esparta em diversos de seus diálogos. Esta atitude foi um dos fatores que o levaram a ser julgado e condenado à morte.

A afinidade e admiração que se desenvolve entre oponentes numa guerra é fato e acontece com diversos indivíduos, mesmo que minha falta de conhecimento e pesquisa me impeçam de afirmar categoricamente que este foi o caso com Sócrates. Da mesma forma, é difícil dizer com absoluta certeza que a história dos 300 de Esparta tenha chegado aos ouvidos de Sócrates, muito menos que ela o tenha influenciado. No entanto, tanto a história da Batalha das Termópilas quanto a vida de Sócrates terminam em pontos comuns: O sacrifício da vida por um ideal, por um objetivo maior que o indivíduo. E este não é o único ponto comum.
Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket

Durante o seu julgamento, Sócrates defende-se contando como seu amigo Xenofonte, indo à Delfos, consultou o oráculo perguntando se havia homem mais sábio que Sócrates. A pitonisa respondeu-lhe que não havia ninguém. Sócrates, em vez de sentir-se enobrecido por isto, contesta a alegação (que era na época como a palavra dos deuses) e parte em busca de evidência que corroborasse ou desmentisse a afirmação do oráculo. Discutindo com políticos e outros homens proeminentes da sociedade Ateniense, Sócrates chega a uma conclusão simples, porém controversa. Disse ele: “Parece, pois, que eu seja mais sábio nisso - ainda que seja pouca coisa: não acredito saber aquilo que não sei”. Com isso, dizia que muitos se passavam por sábios, mas pouco realmente sabiam daquilo que se propunham a debater.

Em “300 de Esparta” o rei Leônidas também consulta um oráculo, o que se diz na estória era a lei de Esparta antes de declarar guerra e começar uma campanha. E mesmo o rei deve obedecer à lei. Os sacerdotes do oráculo são descritos como velhos disformes, pervertidos e ávidos por ouro e riquezas. Sócrates teria os detestado tanto quanto Leônidas os detesta, por sua paixão por riquezas. Eles, no filme, lançam como obstáculo à campanha contra os persas a celebração de um festival religioso e, manipulando as palavras do oráculo, proíbem que Leônidas mobilize o exército. É por isso que Leônidas enfrenta Xerxes com apenas 300 soldados, pois estes eram sua guarda pessoal e somente eles poderiam ser levados sem que se quebrasse a lei. Mostrando assim, um grande amor pela pátria, que Sócrates também exibia, e também uma admiração respeitosa pelas leis. Este respeito pela ordem foi tão grande e tão óbvio que, no local onde a última batalha foi travada entre os persas e as forças do rei Leônidas, o poeta Simonides deixou este epitáfio numa pedra:

Estrangeiro que passas, diz a Esparta que teres-nos visto aqui jacentes
Obedecendo às santas leis da pátria.
(Traduzido para o português da tradução de Cícero para o Latim)

Este amor aparente pela lei também guarda uma pouco sutil acusação contra os oligarcas de Esparta, pois, se não pela manipulação das leis, talvez aqueles soldados pudessem ter sido poupados e uma vitória mais decisiva pudesse ter sido alcançada. E o respeito pela lei também aparece proeminente nos argumentos de Sócrates, quando este diz: “E, embora os oradores estivessem prontos a me acusar e me prender, e vós os encorajásseis vociferando, mesmo assim, achei que me convinha mais correr perigo com a lei e com o que era justo, do que, por medo do cárcere e da morte, estar convosco, vós que deliberáveis o injusto”. É uma visão que a obra de ficção compartilha com Sócrates, de que, mesmo se as leis são perfeitas, elas podem ser aplicadas injustamente por aqueles que buscam seus próprios interesses.

Da mesma forma, este desapego à vida expressa na frase creditada a Sócrates acima, e em diversas outras afirmações dele, é ecoado em espírito por todo o filme “300 de Esparta”. Especialmente quando o narrador onisciente revela pensamentos como os que seguem:

“E mesmo quando (Leônidas) lidera seus preciosos 300 para a morte certa, seu único arrependimento é que ele tem tão poucos para sacrificar”.
“... os 300 meninos atrás dele, prontos para morrer por ele, sem um instante de hesitação. Cada um deles. Prontos para morrer. Eles pensam que sabem o que isto significa”.
Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket

Frank Miller, autor dos quadrinhos e do filme, tenta também expressar com esta frase que não apenas os soldados não sabem o que é a morte, apesar de se pensarem prontos para ela, mas que eles também não compreendem o significado que suas mortes terão no âmbito da guerra e para a história. Ponderações que não devem ser perdidas também pelo leitor de Sócrates, quando lê a forma serena com a qual ele encara que sua própria morte está próxima. Para Sócrates, a morte se oferecia como uma de duas boas possibilidades: Ou a de descansar eternamente, ou a de encontrar do outro lado aqueles que morreram antes dele, e travar animadas discussões com os grandes pensadores e personalidades do passado. Ele vê o fim da sua vida como uma propícia jornada, algo que apetece seus sentidos de investigador e contestador.
Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket

Tanto o filme “300 de Esparta” quanto o julgamento de Sócrates acabam em derrotas com gosto de vitória. Os exércitos de Xerxes, usando de traição e de seus números superiores, eventualmente conseguem destruir as remanescentes tropas espartanas, depois de um conflito de três dias. Historiadores estimam que o exército grego original, composto de 5,500 homens, incluindo os 300 de Esparta, tenha tido por volta de duas mil baixas, sendo os sobreviventes desertores. No entanto, dizem que o exército de Xerxes sofreu algo como 30 mil baixas. Não apenas isto, mas o sacrifício daqueles 300 e do rei consolidam a posição de Esparta contra Xerxes, dão tempo para que os atenienses se recuperassem e vencessem suas batalhas no mar, e um exército de 40 mil gregos, liderados por 10 mil espartanos, eventualmente derrota Xerxes no confronto terrestre. A Batalha das Termópilas até hoje se mantém como um exemplo de como, através de estratégia, controle territorial e treinamento superior, um pequeno contingente de soldados pode derrotar um exército.
Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket

Da mesma forma, mesmo morrendo, Sócrates se imortalizou através do seu pensamento, em muito exposto em seu julgamento e derradeiras argumentações. Não só isto, mas também pelo fato de que ele consegue remover de si o peso moral da condenação e passá-la para seus acusadores e àqueles que o condenaram, condenando a eles pela injustiça. Considerou ele: “Assim, eu me vejo condenado à morte por vós, condenados de verdade, criminosos de improbidade e de injustiça. Eu estou dentro da minha pena, vós dentro da vossa”. E destes que o acusaram, poucos foram os feitos dignos de serem lembrados, além dos que os levaram a serem mencionados no texto de Platão, que os imortalizou na infâmia. Enquanto Sócrates vive para sempre, a influenciar a mente dos jovens e torna-los melhores.

- Texto por Carlos Senna